Cultura

Viúva Machado: vanguarda, coragem, poder e lenda em Natal

28 JUN 2025

Foto: BZZZ

O recente lançamento do livro de Elza Bezerra, que desvenda pormenores da história da Viúva Machado em Natal, remete-nos à edição de setembro de 2014 da Revista BZZZ. Publicação que trouxe matéria completa, assinada por Thiago Cavalcanti, sobre a vida dessa mulher notável, uma verdadeira vanguarda que, ao assumir os negócios da família após a morte do marido, enfrentou o preconceito da sua época.


O mito e a realidade 


Amélia Duarte Machado, a enigmática “Viúva Machado”, transcendeu a figura de uma simples mulher para se tornar um mito na memória dos natalenses. De origem humilde, casou-se com um visionário português, mas enviuvou jovem e herdou considerável fortuna. Herança que, no entanto, tornou-se um fardo, gerando inveja e cobiça, e a transformando em alvo de lendas urbanas que distorciam sua imagem.


Ascensão social e o palacete


Em 1910, Amélia e Manoel Machado viajaram para a Europa, um marco em sua ascensão social. Ao retornar a Natal, Manoel adquiriu o suntuoso palacete da Rua Dom Vital, nº 504, que se tornou um símbolo de sua riqueza e influência. A residência, com materiais e ferragens importados da Europa, e um acervo de arte e mobiliário de luxo, era palco de grandes recepções, transformando-se no centro da vida social da elite potiguar. O “Clube Veneza”, como era conhecido o salão de festas, recebia autoridades e personalidades ilustres, consolidando a reputação de Manoel Machado como um anfitrião exemplar e um “Cônsul natalense”.


A visão empreendedora


Manoel Machado era um visionário nos negócios. Investiu em terras que muitos consideravam sem valor, como Guarapes, Pitimbu, Parnamirim, Petrópolis, Macaíba e Ponta Negra, acumulando uma vasta fortuna. Sua empresa, a M. Machado & Cia., era um império que abrangia importação e exportação de diversos produtos, além de seguros e navegação, operando com as melhores taxas e demonstrando seu tino comercial apurado.


A tragédia e o desafio de Amélia


Apesar da riqueza, o casal Machado enfrentou a dor de não ter herdeiros, com 14 gestações resultando em abortos espontâneos ou na morte precoce dos filhos. Em 1933, Manoel Machado adoeceu de câncer e faleceu em 1934, aos 53 anos, no Rio de Janeiro. Amélia, desolada e sem experiência em negócios, viu-se diante de um imenso patrimônio e da responsabilidade de administrá-lo. Com a ajuda de funcionários de confiança e do advogado Ciro Barreto, ela conseguiu organizar as finanças e colocar em ordem os negócios da família, loteando terras e recebendo aluguéis atrasados.


De dona de casa a grande comerciante


Aos 59 anos, sozinha e sem filhos, Amélia Duarte Machado superou o medo e se transformou em uma grande comerciante, desafiando a sociedade machista da época. Durante a Segunda Guerra Mundial, sua Despensa Natalense tornou-se fornecedora da base militar americana em Parnamirim Field, demonstrando sua capacidade de adaptação e visão estratégica. Ela chegou a construir um abrigo antiaéreo em seu quintal, evidenciando sua preocupação com a segurança e a continuidade dos negócios.


A lenda da “Papa Figo” e o preconceito


O sucesso e a independência de Amélia geraram uma lenda urbana cruel: a da “Papa Figo”. Boatos infundados espalhavam que ela sofria de uma doença incurável e que se alimentava de fígado de crianças para curar-se. Essa lenda, alimentada pelo preconceito e pela inveja, visava descreditar e marginalizar uma mulher que ousou ocupar um espaço de poder tradicionalmente masculino. Amélia, que era vesga, baixinha e de hábitos simples, não ostentava joias e adotou o luto após a morte do marido, foi crucificada por ser rica e bem-sucedida em um ambiente que não perdoava a ascensão feminina.


O legado e o silêncio da família


Em 1978, o jornalista Vicente Serejo conseguiu uma entrevista com Amélia, que desmentiu a lenda da “Papa Figo”, atribuindo-a à maldade das pessoas e à cobiça por seu patrimônio. Amélia Duarte Machado faleceu em 1981, em seu palacete, aos quase 100 anos. Apesar das tentativas de jornalistas e historiadores, os quatro netos da viúva, filhos do único filho, adotivo, recusaram-se a colaborar com a matéria, mantendo um silêncio que perdura até hoje. As informações sobre a vida de Amélia foram obtidas por meio de jornais, documentos e entrevistas com historiadores e jornalistas, como Rostand Medeiros, Paulo Henrique Oliveira e o advogado Diógenes da Cunha Lima.


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Autor(a): BZN



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