14 JUL 2025
Na terra onde os leitos de UTI são mais raros que dias sem denúncia no Hospital Walfredo Gurgel, o secretário estadual de Saúde do Rio Grande do Norte, Alexandre Motta, mostra que sabe manter o ritmo, ao menos no forró e na ginástica. Na última sexta-feira, vídeos em suas redes sociais mostram o secretário esbanjando alegria numa festinha dançante. Já nesta segunda pela manhã, lá estava ele, suando a camisa na ginástica. A saúde pública pode até estar em colapso, mas a disposição do secretário segue em plena forma.
É o que se pode chamar de “governo em movimento”, não exatamente na direção da solução dos problemas, mas em suas próprias coreografias nas redes sociais.
Enquanto isso, o Walfredo Gurgel vive seu próprio forró de horrores, com pacientes espremidos em um pronto-socorro feito para pouco mais da metade, alguns encurralados em uma sala de exames como se fossem figurantes em um filme de guerra. O setor de politrauma? Intransitável. Insumos? Escassos. Planejamento? Nenhum. O caos reina ininterrupto, e nem uma dancinha parece capaz de amenizar o sofrimento da população.
No Hospital de Caicó, a coreografia é semelhante: UTIs lotadas, medicamentos em falta, e a população, especialmente a mais vulnerável, em compasso de espera… por atendimento, por dignidade, por alguma atenção que não venha em forma de postagens bem-humoradas.
Já no Lacen, os servidores improvisam com guardanapos por falta de papel higiênico. Sim, 2025, ano do guardanapo sanitário no RN. Mas calma, tem mais: medicamentos continuam em falta na Unicat, incluindo fórmulas essenciais para crianças com alergia à proteína do leite. São R$ 300 por lata, para durar quatro dias. Boa sorte às famílias pobres. Ou melhor: poste sua indignação com um filtro bonito e uma música animada, quem sabe alguém na Sesap nota.
A governadora Fátima Bezerra (PT) e seus auxiliares parecem ter descoberto uma estratégia inusitada para lidar com a tragédia: embalar o colapso em vídeos ensaiados, lives sorridentes e declarações vazias. A saúde pública agoniza, mas as redes sociais seguem vivíssimas.
E quando a crise aperta, sempre há uma solução criativa: prometer leitos que não existem, protelar pagamentos a fornecedores por até 180 dias, e jogar a culpa no já distante governo Bolsonaro. Que, aliás, foi o tempo que não faltou dinheiro para o RN. Um verdadeiro baile de responsabilidades.
Enquanto isso, o povo do RN dança. Mas não o forró do secretário. Dança de angústia nos corredores lotados, na espera por leitos, no desespero por medicamentos e atendimento. E o que resta é torcer para que, entre uma série de abdominais e uma quadrilha junina, o secretário se lembre de que saúde não se administra com curtidas, mas com gestão.
Autor(a): BZN
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14 JUL 2025