07 MAI 2025
Entre os momentos mais enigmáticos da Igreja Católica estão os conclaves, reuniões fechadas em que cardeais do mundo inteiro escolhem o novo papa. Apesar das especulações e das apostas vaticanas, a história recente mostra que os escolhidos muitas vezes fogem completamente das expectativas. Foi o caso, em 1978, da eleição do cardeal Karol Wojtyła, da Polônia, que se tornou João Paulo II.
Com apenas 58 anos e vindo de um país sob regime comunista, Wojtyła foi o primeiro papa não italiano em mais de 450 anos. Em um conclave onde se esperavam nomes como Giovanni Benelli ou Giuseppe Siri, sua escolha foi um verdadeiro terremoto político e espiritual. Nascido em Wadowice, ele se tornaria uma das figuras mais influentes do século XX, com um pontificado de 27 anos que atravessou a Guerra Fria, impulsionou o diálogo inter-religioso e projetou a Igreja no cenário global.
Décadas depois, em 2013, um novo gesto de ruptura surpreendeu o mundo. Quando se falava nos cardeais Angelo Scola, Marc Ouellet e Peter Turkson como favoritos, os cardeais elegeram Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires. Já com 76 anos e um perfil discreto, Francisco foi o primeiro papa latino-americano, o primeiro jesuíta e o primeiro a adotar o nome de São Francisco de Assis. Embora tenha recebido votos significativos no conclave de 2005, não era visto como viável oito anos depois, mas acabou se tornando símbolo de uma Igreja voltada à simplicidade, ao acolhimento e às periferias.
Em 2005, a eleição de Joseph Ratzinger como Bento XVI foi, em parte, esperada, ele era o principal colaborador de João Paulo II e decano do colégio cardinalício. Mas sua fama de teólogo conservador fazia muitos duvidarem de sua capacidade de consenso. Surpreendentemente, foi eleito rapidamente, num dos conclaves mais curtos da história recente.
Voltando ao próprio ano de 1978, o conclave de agosto já havia surpreendido ao eleger Albino Luciani, patriarca de Veneza, como João Paulo I. Seu nome não era o mais cotado, mas seu jeito humilde e sorriso cativante conquistaram o colégio. Seu pontificado, no entanto, durou apenas 33 dias, o mais breve da era moderna, e um dos mais envoltos em mistério. João Paulo I foi encontrado morto em seus aposentos, oficialmente vítima de um ataque cardíaco, mas a ausência de autópsia, a confusão inicial do Vaticano e os relatos contraditórios sobre as circunstâncias alimentaram teorias de conspiração até hoje não dissipadas. Sua morte repentina abriu caminho para a histórica eleição de João Paulo II.
Em 1958, após a morte de Pio XII, muitos apontavam o conservador Giuseppe Siri como favorito. No entanto, o escolhido foi o idoso cardeal Angelo Roncalli, que adotou o nome João XXIII. Considerado um “papa de transição”, ele desafiou todas as previsões ao convocar o Concílio Vaticano II, que transformaria profundamente a relação da Igreja com o mundo contemporâneo. Essas escolhas inesperadas mostram que, por trás das portas da Capela Sistina, os cardeais muitas vezes preferem nomes que sinalizam mudanças, sutis ou profundas, no caminho da Igreja. Quando menos se espera, o Espírito Santo, ou a diplomacia e inspiração humanas, sopra em outra direção.
Autor(a): BZN